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domingo, 20 de junho de 2010

FUTEBOL E ARTE por VASQS



Quando o gol acontece, o narrador maneirista define assim: - Foi uma pintuuuuura de gol!
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Digamos que seja que o narrador esteja certo, que o gol mereça mesmo ser comparado a uma pintura. Mas a qual? A que pintura ele se refere? À Santa Ceia, do Da Vinci? Apóstolos na barreira, Jesus no gol, o centurião mete um bico na bola, ela passa por baixo das pernas de Jesus, e gol! No outro dia a imprensa sensacionalista destaca em letras garrafais: “TEVE FRANGO NA SANTA CEIA”.
Ou a um quadro do Van Gogh? Pinceladas tensas denotando a inquietação espiritual do centroavante no momento do gol – e também a falta da orelha, mordida pelo zagueiro estúpido na disputa pela bola.
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Um gol arte sacra, como as doces pinturas do meigo Murillo? Kaká erguendo os braços aos céus, agradecendo a graça alcançada de coincidir com a bola num mesmo tempo e espaço – vá ter fé assim no inferno! - e também pela incompetência, e fé de menos, do goleiro adversário.
Vai ver o narrador pensou em Guernica, de Pablo Picasso. Um gol que levará as torcidas à catarse definitiva, numa verdadeira guerra em que todos acabarão reduzidos a minúsculos pedacinhos de cubos - em fase jamais imaginada pelo próprio Picasso: a fase vermelha e roxa.
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Um gol Maja Desnuda, como não?, À maneira de Francisco Goya – um gol de pelada!
Um gol Kandinsky? Qualquer Kandinsky, tendo o gol resultado de um emaranhado aleatório de linhas, cores e formas de bolas, criado apenas pra satisfazer o gosto estético do sofisticadíssimo torcedor das arquibancadas?
Ah,um Salvador Dalí! Aqueles relógios derretendo, simbolizando o momento dramático em que o gol aconteceu: aos 44 minutos e 30 segundos do segundo tempo, nada mais restando pra reação do adversário. Um gol do instinto assassino, gerado do inconsciente mais remoto do centroavante matador.
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Uma obra daquelas que faziam o dadaísta? Vai ver. Um gol que exalta o nada diante do destino incerto que levará o time ora derrotado na sequência do campeonato.
Talvez se trate de um gol-Malevich. Desses que deixam o time adversário, a torcida adversária, o técnico adversário, e até o juiz, agora também adversário e ainda mais filho da puta, completamente embasbacados, sem entender lhufas do que viu; a não ser pela garantia do narrador-crítico de que aquilo – apenas um círculo branco sobre fundo redes – é uma pintuuuuura!
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Mas não é nada disso. Puxa como não pensamos antes? A pintura a que se refere o narrador só pode ser uma: a obra maior de Edward Munch, O Grito. Claro, de gol




Vasqs, nosso companheiro de Overmundo, publica regularmente no Ostras ao Vento, o seu blog e em outros sites da Internet.
E eu, não por acaso, escolhi este texto para apresentá-lo a você, meu querido leitor.
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LÍGIA SAAVEDRA

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