domingo, 31 de outubro de 2010
"CARLOS"
Dirigido por Olivier Assayas ("Horas de Verão"), "Carlos" originalmente foi uma minissérie para a TV francesa, dividida em três episódios, com locações em diversos países, elenco internacional e orçamento inflado – 14 milhões de euros. Montado para o Festival de Cannes, o longa-metragem mastodôntico levantou certa poeira por ser um representante da televisão no solo sagrado do cinema. A polêmica não faz o menor sentido, no entanto, já que não há nada da estética televisiva ali – só critica quem não viu.
Ilich Ramírez Sánchez, ou Carlos, seu nome de guerra, também ficou conhecido como Chacal. Um dos terroristas mais famosos e procurados da Europa na década de 1970 e 1980, nasceu na Venezuela, filho de um advogado marxista. Teria recebido treinamento paramilitar ainda na adolescência, em Cuba, e aos 20 anos foi para a universidade em Moscou, de onde foi expulso. Alinhou-se com militantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina, com bases na Jordânia e Iemên, e de lá levou a luta armada para Paris, onde a história começa.
Com o mesmo sobrenome e também venezuelano, Édgar Ramírez interpreta o personagem principal com garbo. Cheio de si, forte, conquistador, no início Carlos fala com paixão e arrogância da revolução que está por vir. Articula uma rede de células revolucionárias na Alemanha, Japão e Oriente Médio. Atentados a bomba e execuções são frequentes, executados com cálculo e frieza. Ele não brinca em serviço.
Foto: Divulgação
Carlos no início da década de 1970
Depois de matar sozinho três policiais e um traidor do bando, vira estrela na imprensa francesa e parte para seu trabalho mais ambicioso: a invasão, em 1975, de uma reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em Viena. Sequestrou ministros do mundo inteiro, conseguiu um avião e depois de receber um resgate milionário, saiu ileso.
A trajetória de Carlos segue em ritmo vertiginoso – a vontade de sair da sala para ir ao banheiro fica em segundo plano; em primeiro, a ânsia de saber para que lado o terrorista vai. Sim, porque o jogo de bastidores para financiar sua organização e fornecer armas é intenso: Síria, Iraque (Saddam Hussein era seu "fã"), Alemanha Oriental, Líbano, União Soviética... Os interesses vão e vem ao longo dos anos, numa pungente dança da cadeiras. A mensagem clara do roteiro de Assayas e Dan Franck é que a política internacional vive de uma hipocrisia eterna. Carlos acaba indo para o mesmo lado.
De herói inescrupuloso, mas comprometido com a revolução, se transforma num mercenário narcisista e sem lar, que nenhum antigo aliado quer proteger na década de 1990, quando era o terrorista mais procurado do mundo. Alcoólatra, obeso, mulherengo – a transformação física de Édgar Ramírez impressiona –, foi capturado no Sudão em 1994 e condenado à prisão perpétua.
Apesar da ação constante, "Carlos" é didático com personagens, lugares e figuras históricas. Mesmo com a quantidade de gente que passa pela tela ao longo das horas, o espectador permanece consciente do que está acontecendo. Melhor ainda: imerge na realidade do protagonista, sem necessariamente criar empatia por ele e seus ideais. Assayas produziu um épico moderno, à altura de clássicos como "Estado de Sítio" (1972), de Costa-Gavras. No caso, multiplicado por três.
Assista o trailler apresentado em Cannes:
Serviço – "Carlos" 34ª Mostra de São Paulo
Direção de Olivier Assayas (França), 330 minutos
Elenco: Kaabour Ahmad, Alexander Scheer, Edgar Ramirez, Juana Acosta, Nora von Waldstätten
Unibanco Arteplex 2, 30/10 (sábado), 20h00, sessão 825
Cinemateca - Sala BNDES, 02/11 (terça), 16h30, sessão 1144
Elenco: Kaabour Ahmad, Alexander Scheer, Edgar Ramirez, Juana Acosta, Nora von Waldstätten
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